Ele vai se auto-construindo dia e noite
Assim com um muro não cresce sozinho
Só aumenta tijolo por tijolo a custa de trabalho
Na mistura de cimento, água e areia
O vegetal junta a luz do sol, gás carbônico e água
E fabrica a matéria que será o seu corpo:
Raízes, tronco, galhos, folhas e frutos
A árvore é perfeita: captura poluição e libera ar puro!
E faz este milagre sem ter idéia disto...como nós.
É, minha filha, como nós os animais, os humanos
Sintetizamos da luz, da água e dos alimentos
Este corpinho que tanta dor de barriga nos dá:
Nós fabricamos o barro do qual somos feitos!
Mas somos imperfeitos: capturamos a natureza com destruição.
Andro, do homem
Meno, de menstrual da fêmea.
Só que Pausa não é greve
de hormônios dos ovários e testículos
Pausa é falência da produção
de progesterona ou testosterona.
Fica, pois, a dúvida fálica de difícil solução:
Pausa natural ou reposição ou Viagra?...
E vejo a minha imagem
Olhando para mim mesmo
Com o meu olho olhando a si próprio
Percebo que nem minha imagem é permanente
E entendo a dificuldade de meditar:
O fazer a mente refletir-se como mera mente
Sem as imagens que em pensamentos faz de si
Consolidadas como um Eu, personagem inventado
Para ser nosso roteirista no teatro de marionetes da vida
E que por ser meramente ficção mental
É feito vampiro, não reflete em espelho algum
Mas suga toda a nossa vivência do aqui e agora temporal.
Poeta da paz na marra e no peito
Dava porrada a torto e a direito
Na cruz, na espada e no capeta
Mas hoje, poeta envelhecido
Eu penso que penso o que penso
Mas no fundo não penso quase nada
Pois quase tudo o que penso que penso
Já foi pensado e em mim só foi copiado.
Da dor que choro em silêncio
Sufocada na solidão do peito
Não se transforme em pânico
E transborde de qualquer jeito.
Eu luto para assimilar o golpe
Pois agora entendo na carne
Os ensinamentos sagrados
Dos velhos mestres do Oriente
De que há muitas mortes
De si mesmo em cada um
Numa mesma existência
Sob as estrelas do firmamento.
Conforme os apelos dos ensinos antigos
Luto pela superação dos apegos
Com o rompimento dos elos
Que unidos formam os egos
Que nos aprisionam inconscientes
Nos ciclos de desejos de nossas mentes.
Mas para quê fim? - Alguém pode perguntar
Para amansá-la como um leão de circo
Afim de que faça os meus desejos?
Não estarei perdendo, talvez, o melhor de mim
A essência que distingue o meu eu dos outros?
Como resposta devolvo outras perguntas aos quatro ventos:
O que são os meus desejos, senão sociais condicionamentos?
Desejo ser eu mesmo ou o que todos esperam de mim?
Como posso ser eu mesmo entre tantos outros iguais
Incutidos da mesma mente feita cultura massificada?
Freud, Iung, Lacan e Buda já desvendaram, por sinal
Que a mente é uma prisão educacional
Uma cela solitária do eu de ilusão do homem
Um eu feito leão de circo amansado para o espetáculo
(Atração que, aliás, já foi proibida devido aos maus tratos
Já foi banida em todo o mundo minimamente civilizado)
Por isto devemos dominar a meditação silenciosa
Para escaparmos dos maus tratos da mente dominadora
E, quem sabe, para acessarmos a essência misteriosa
Do que nos distingue e do que nos confunde com os outros
Devemos meditar até conquistarmos também a proibição
Dos maus tratos institucionais sobre a consciência coletiva do povo
Meditar até conseguirmos o super-homem livre: até a iluminação!
Quero deixar provado
Que a prova
Que pretende provar
Nunca prova nada.
Quero deixar provado
Que não há prova
Que prove alguma coisa
Com aprovação geral.
Como não há prova
De que há provas
Logo há prova
De que não há provas.
Resulto, pois, inocente
Da autoria deste verso
Pois nada prova a presumida
Fonte em mim de sua nascente.
Poema é como um gaveteiro
Em que cada verso é uma gaveta
Onde engavetamos nossos sentimentos do mundo
Materializados em palavras sólidas
Portanto, como qualquer outro tipo de guardado
Ficam sujeitos à depreciação do tempo
Reler nossos próprios poemas antigos
É como remexer nas gavetas do porão
Com traças, mofos e vãs naftalinas
Pois, no máximo, ficam fora de moda, fora de época
Mas sempre desvelam peças esquecidas
Que confinam vivos os nossos fantasmas inconscientes.
Devo tentar compor um poema emotivo
Comemorativo aos 85 anos da Dona Ciça?
Sei que me falta arte e intensidade poética
Para cantar a magia de uma vida tão energética
Especialmente quando esta pessoa é a mãe da gente.
Mas, enfim, já que comecei, vamos em frente.
Tenho pra mim que poema
É feito do que se vive
E que no viver do dia-a-dia
É que deve ser captado a poesia:
A essência da existência.
Esta tem sido a minha postura
Que não é de agora, diante desta Senhora:
Usufruir como néctar a bênção da convivência
Captando de cada momento a doçura
Em meio às asperezas das praticidades diárias
Em que buscamos, cada um por si, garantir a sobrevivência
Muitas vezes em condições bem precárias
Mas sempre sem perder a ternura por muito tempo como ressentido
Pois é no meio familiar que se aprende a paciência de perdoar
Devido à imposição de um conviver desmedido.
Busco compartilhar com Ela o tempo que escoa, não apenas como um filho
Que reconhece a imensidão da trajetória desta alma simples e vasta
Que construiu seu saber como um rio, erodindo o caminho que a arrasta
Da vida camponesa para povoar um mundo tecnológico no novo milênio
Mais como um discípulo atento que observa cada instante como um prêmio
Um ensinamento da arte de viver, curtido pela terceira idade
Feito um testamento para ser herdado como um legado sem materialidade
Para ser guardado como um tesouro raro no coração e na mentalidade.
Nos “oitentas”, como se diz, está-se no lucro!
Vivendo, como poucos, os dividendos do tempo da vida
Onde cada momento é denso de significados e recordações
Mas Dona Ciça, sempre cheia de tarefas e planos por fazer
Vive o presente, criando com agulhas e linhas a sua arte de invenções
Produzindo com as próprias mãos novos objetos no mundo e com prazer
A quem imito, produzindo artesanalmente escritos em versos e prosas
Pensando ter herdado o segredo do bom e sereno envelhecer
Que é manter o corpo e a mente criativamente ocupados de afetos.
Tomara que eu chegue lá com tamanha lucidez e energia de viver
E com alegria para merecer igual admiração de meus filhos e netos.
Nunca é nada
E nada é nunca
Na vida...
Tudo é sempre
E sempre é tudo
Na morte...
Nada é sempre
E nunca é tudo
Na vida...
Sempre é nada
E tudo é nunca
Na morte...
Tudo é impermanente
Mais as horas que o relógio
Mais o gesto que a mão
Mais o eu que a imagem
Mais o corpo que o nome
Mais a vida que a alma
Alma?
Tudo é impermanente
Mais a certeza que a dúvida
Mais o desistir que o querer
Mais a desgraça que a esperança
Mais a fome que a miséria
Mais a guerra que a paz
Paz?
Tudo é impermanente
Mais a segurança que o medo
Mais a paixão que o amor
Mais a compaixão que a indiferença
Mais a água que a terra
Mais o planeta que o Cosmos
Mais o universo que Deus
Deus?
Tudo é impermanente.
Na imensidão desordenada do inconsciente
Remamos apertados no caiaque do ego
Guiados pela bússola desorientada do superego
Numa corrida mental em busca de nós mesmos
E contra o tempo do prazo de validade da vida
Onde todos, fascinados, somos “Kids Vigaristas”
Trapaceando atalhos e desvios para algum paraíso
Em belas ilhas de afrodisíacos prazeres fáceis
Pra não ver no horizonte a bandeira de chegada.
A maçã verde que Adão mordeu com prazer
Levou milênios encruada para amadurecer
Até cair de madura na cabeça do Newton
(Que a levitação dos astros com ela entendeu)
Para só depois de vários séculos reflorescer
Gravando em vinil as canções dos Beatles
(Que despertaram na juventude a poesia de viver)
E após décadas frutificar, como um virtual prêmio
No paraíso digital das gerações do terceiro milênio
Em lap-tops e iPhones com a logomarca da Apple mordida
Frutos sensíveis ao toque humano na busca da esperança perdida
E que ostentam nos ramos virtuais da tela da web o saber do gênio
De um oráculo onipresente, um Google brotado da fruta apodrecida
Que inaugura o novíssimo testamento bíblico, filosófico e poético da vida.
Sanitariamente, poesia à parte
Se em termos de saúde pública
As pombas urbanas são como ratos voadores
Os mosquitos contágio-transmissores
São como hipodérmicos aparelhos de injeção alados
Que com a agulha de seus inocentes bicos finos
Picam nos sadios o sangue dos contaminados
Provocando epidemias como frios assassinos
Feito o Aedes aegypti com a dengue homorrágica
Que fez fama da Ásia aos trópicos da África e América
Fazendo da proliferação do arbovirus a sua arma do crime
Conseguiu criar uma mundial tragédia modernamente homérica
Com a pandemia da dengue que, sem dengo, é cruel e firme.
Pelo olho mágico da minha porta
Vejo outras portas no corredor
E os olhos destas outras tantas portas
Vêem o meu olho observador
O espaço de visão das nossas portas
É o condomínio de expiação da solidão.
Tentei modificar o mundo
Com a revolução hippie dos costumes
Tentei mudar o meu país
Elegendo um operário presidente
Tentei melhorar o meu Estado
Colocando os trabalhadores no poder
Tentei aperfeiçoar a minha cidade
Sob o comando de líderes do sindicalismo
Tentei otimizar o meu local de trabalho
Gerenciando eu próprios as modificações
E tentei encontrar a explicação no filosofismo
Pra sucessivos fracassos e tantas decepções
Agora, como última tentativa ainda viável
Tento transformar a mim mesmo pelo budismo
Convertido por uma causa ecologicamente sustentável
Que equilibre harmoniosamente o pensar e as emoções
Como a única mudança possível neste mundo do imediatismo.
Explicando: Gente, a vida
Não se resume em festivais!
Como quem diz: As “marmeladas”
Estão instaladas em todos os cais...da vida
Foi pelo momento de poética catarse coletiva o meu choro
Catarse ocorrida no mais puro estilo popular, em coro
(Como nas antigas tragédias gregas encenadas)
Com a massa gritando enfurecida: É marmelada!!
E o grito se propagando feito flechas pelos ares
Via rádio e TV em P&B ecoando pelos lares...
Talvez o único momento em nível de Brasil
Com o povo e a flor enfrentando o canhão e o júri:
“Com a história na mão, caminhando e cantando
E seguindo a canção”... contra o coturno e o fuzil
(Seguindo a poesia da canção e não cartilhas de subversão).
Calados, Vandré e nós, o coro da canção
Que caminhamos várias utopias desde então
Chegamos até aqui esperando acontecer sem crer
E eis que chego à conclusão desta longa caminhada:
Gente, a vida é uma grande marmelada!
Se sonha até o fim
Sem acordar
Não fica recordação
São como vidas passadas...
Sonho ruim, em que se chora
É como o viver de agora
Se acorda no meio da ilusão
Sobressaltado pelo feio
Não se consegue esquecer
Nem dormir de novo de receio
De voltar pro meio do mesmo sofrer
Para a mente os reais sonhos sonhados
São estes sonhos abortados
Que são a vida dormida da qual acordamos
Em fuga, com medo e assustados
Não os feitos metáforas de desejos
Que diz sonhar acordada toda a gente
Nem os bons sonhos inconscientes
Que ao amanhecer nem são lembrados.
Celso Afonso Lima é formado em Engenharia de Minas pela UFRGS, estudou jornalismo e filosofia e atualmente estuda Letras. Sem nenhum livro publicado, o autor escreve desde sua adolescência e se considera um "artesão das letras e palavras". O mundo maravilhoso dos blogs na Internet é como um grande “cordel virtual” que possibilita aos poetas amadores desengavetarem e pendurarem todas as suas obras, feito peças íntimas estendidas num varal ao sol do cyber-espaço, para a leitura dos internautas que navegam à deriva na rede.