Simulacros

Vi, li e reli
Só não sei dizer
Se compreendi
O que acabo de entender:
Somos como um núcleo de realismo
Com grossas margens de fantasias.
Ou é o contrário:
Somos grossas margens de realismo
Com um núcleo de fantasias?
Ou somos apenas simulacros de ambas?

PELAS JANELAS


Nos edifícios da vizinhança
Na manhã ainda escura
Luzes nas janelas dos banheiros
Projetam vultos fantasmagóricos
No gestual dos braços banhando o corpo.

No difícil ser de que sou herança
Na tarde ainda clara
Escuros nas janelas da mente
    Projetam assombrações paranóicas
No ritual do corpo dominando o espírito.

Pelas janelas espiamos a vida da gente.

Olho no Olho

Quando olho no espelho
E vejo a minha imagem
Olhando para mim mesmo
Com o meu olho olhando a si próprio
Percebo que nem minha imagem é permanente
E entendo a dificuldade de meditar:
O fazer a mente refletir-se como mera mente
Sem as imagens que em pensamentos faz de si
Consolidadas como um Eu, personagem inventado
Para ser nosso roteirista no teatro de marionetes da vida
E que por ser meramente ficção mental
É feito vampiro, não reflete em espelho algum
Mas suga toda a nossa vivência do aqui e agora temporal.

Ecos Culturais

Quando jovem eu era poeta
Poeta da paz na marra e no peito
Dava porrada a torto e a direito
Na cruz, na espada e no capeta

Mas hoje, poeta envelhecido
Eu penso que penso o que penso
Mas no fundo não penso quase nada
Pois quase tudo o que penso que penso
Já foi pensado e em mim só foi copiado.