SÓ POR HOJE















Ao Sogyal Rinpoche

Se eu não morrer hoje pela manhã
Vou prestar atenção em cada momento
Saborear cada golfada de ar que respiro
Sentir o contato da água na pia e no banho
E olhar o colorido da paisagem pela janela
Longamente...
Se eu não morrer hoje pela tarde
Vou ser atencioso com as pessoas que gosto
Terei paciência com os estranhos e os hostis
Serei voluntário para ajudar aos necessitados
E terei atitudes e hábitos em defesa da natureza
Empolgadamente...
Se eu não morrer hoje pela noite
Vou admirar atentamente as luzes noturnas
Achar constelações e identificar planetas no céu
Olharei as luzes artificiais das casas da minha aldeia
E só por hoje usufruirei desta preciosa vida humana
Profundamente...
31/12/2011
FIM DO LIVRO!

FOTO DO MENINO QUE FUI

Uma foto antiga é um espelho
Que reflete sempre um momento
Do qual nos afastamos encantados
Com a velocidade de fuga da luz.
Mudamos nós no atrito da trajetória
E a nossa imagem gravada nos é estranha.
Os reflexos do passado não alcançam o presente
Conforme prova a relatividade do genial Einstein.

COTIDIANO À QUATRO MÃOS

Enquanto eu lavava alface na cozinha pro jantar
E ouvia as más notícias do Jornal Nacional na TV da sala
Olhando pela janela víamos Vênus e Mercúrio em conjunção
E ao longe, Júpiter. Todos brilhando sem piscar em torno da lua
Como uma gang de astros espiando a vida da gente

Enquanto minha mulher picava carne crua pro gato
(Que comia ficando de pezinho, em duas patas)
E tirava a tartaruga do tanque para dormir sob o sofá
Olhando pela vidraça do forno víamos a picanha com batatas
Famintos, ansiávamos comer feitos bichos: de quatro pés!

Na imensidão o que os astros vão pensar de nós?...

ANÚNCIO DO SENTIDO DA VIDA

A consciência de uma morte anunciada
Como a da maçã mordida pelo câncer
Que definhou e matou Steve Jobs
Transforma qualquer um em budista
Praticante do desapego e da compaixão
Do viver cada dia como sendo o único.

Mas quando a doença é curada
E é cancelada a previsão anunciada
Perdemos a consciência da morte por vir
E como seres sem prazo de validade certo
Voltamos a perder a consciência do existir

A morte é o anúncio que dá sentido à vida
E a todos desde o nascer está anunciada
Mas por não sabermos quando se morre
A existência valiosa pode ser desperdiçada.

Menos querer e mais fazer

Não me cabe continuar sonhando
Com o que tenho vontade de fazer
Pois é o mesmo que sempre tive vontade
E que continuo inerte a só querer
Agora não tenho mais tempo nem  idade
Sequer pra fazer tudo o quero acontecer:
É hora de botar a mão na massa pra valer!

BANCAS DO BRIC

Persas e turcos não são árabes
Mas português é europeu, pois-pois!
Americano pensa que é a América
Todos eles povos em crises existenciais
Enquanto emerge o BRIC das quinquilharias
BRasil, Índia e China botando bancas comerciais
Num mundo em rebuliço cheio de patifarias
E a gente sem escapar ileso destas bravatas
Do lado debaixo do Equador mestiço
Vamos aproveitando pra lambuzar o beiço
Abocanhando copas e olimpíadas pelas mamatas
Compactuando com a máfia FIFA-CBF e ETC.
.

Onze de onze/onze


Não me ocorreu nada
Nesta data cabalística
Nenhuma inspiração
Nem poética nem trágica
Mas pra não passar em branco
Registro que nada há a registrar
Neste simulacro de poema
Que vale apenas pelo seu título.