No Vácuo do Sonho Real

Sonhei que estava vivendo
O sonho que havia sonhado ontem
Deste sonho do sonho sonhado antes
Acordei convencido que os sonhos têm memória
E que são uma vida paralela noutra dimensão
Sonho ou realidade: onde a salvação?
A vacuidade é que desvenda o enigma desta estória?

Ó-linda Ilha Desvirginada

Na pressa de chegar no melhor lugar
(antes que eu morra ou ele acabe)
Sigo como no vácuo de uma ambulância
Que vai abrindo o caminho da emergência
No trânsito congestionado de ganâncias
Na via beira-mar do calçadão da inconsciência

          Mas sigo percebendo a beleza contida na paisagem
          Do oceano com seus arrecifes na Boa Viagem
         Que faço para conhecer o paraíso de Fernando de Noronha
         Que é um reduto da natureza brasileira ilhada
         De cuja exploração a indústria do turismo sexual sonha
         Ver sua orla por espigões arquitetônicos ser estuprada.




NO SINAL AMARELO

Ultrapassou o sinal, peça desculpas
Não hesites em se humilhar
E se ela negar e quiser revide
Roube o perdão dela rápido
Enquanto dói e estiveres arrasado
Vá se esgueirando feito motoboy
Entre os espelhos retrovisores
Dos veículos no sinal fechado
Para ser o primeiro a lhe sorrir
quando ela abrir o verde do seu olhar
Para não deixar o coração dela pestanejar
E te mostrar seus olhos vermelhos de chorar
Por que, senão, a fila andou e você apagou
E terá a licença cassada por excessos acumulados
(Talvez sem direito a curso de reciclagem!)

ECOS DO CAUÊ

Fiquei pastando versos

Por um bom tempo a ruminar

O BOITEMPO que o Drummond

Levou vinte anos pra semear.