O ENGAVETADOR DE POETAS


Poema é como um gaveteiro
Em que cada verso é uma gaveta
Onde engavetamos nossos sentimentos do mundo
Materializados em palavras sólidas
Portanto, como qualquer outro tipo de guardado
Ficam sujeitos à depreciação do tempo

Reler nossos próprios poemas antigos
É como remexer nas gavetas do porão
Com traças, mofos e vãs naftalinas
Pois, no máximo, ficam fora de moda, fora de época
Mas sempre desvelam peças esquecidas
Que confinam vivos os nossos fantasmas inconscientes.

O poeta fica engavetado em seus poemas.

MINHA MÃE & MINHA MESTRA (MM&MM)

 
Devo tentar compor um poema emotivo
Comemorativo aos 85 anos da Dona Ciça?
Sei que me falta arte e intensidade poética
Para cantar a magia de uma vida tão energética
Especialmente quando esta pessoa é a mãe da gente.
 Mas, enfim, já que comecei, vamos em frente.
Tenho pra mim que poema
É feito do que se vive
E que no viver do dia-a-dia
É que deve ser captado a poesia:
A essência da existência.
 Esta tem sido a minha postura
Que não é de agora, diante desta Senhora:
Usufruir como néctar a bênção da convivência
Captando de cada momento a doçura
Em meio às asperezas das praticidades diárias
Em que buscamos, cada um por si, garantir a sobrevivência
Muitas vezes em condições bem precárias
Mas sempre sem perder a ternura por muito tempo como ressentido
Pois é no meio familiar que se aprende a paciência de perdoar
Devido à imposição de um conviver desmedido.
 Busco compartilhar com Ela o tempo que escoa, não apenas como um filho
Que reconhece a imensidão da trajetória desta alma simples e vasta
Que construiu seu saber como um rio, erodindo o caminho que a arrasta
Da vida camponesa para povoar um mundo tecnológico no novo milênio
Mais como um discípulo atento que observa cada instante como um prêmio
Um ensinamento da arte de viver, curtido pela terceira idade
Feito um testamento para ser herdado como um legado sem materialidade
Para ser guardado como um tesouro raro no coração e na mentalidade.
 Nos “oitentas”, como se diz, está-se no lucro!
Vivendo, como poucos, os dividendos do tempo da vida
Onde cada momento é denso de significados e recordações
Mas Dona Ciça, sempre cheia de tarefas e planos por fazer
Vive o presente, criando com agulhas e linhas a sua arte de invenções
Produzindo com as próprias mãos novos objetos no mundo e com prazer
A quem imito, produzindo artesanalmente escritos em versos e prosas
Pensando ter herdado o segredo do bom e sereno envelhecer
Que é manter o corpo e a mente criativamente ocupados de afetos.

Tomara que eu chegue lá com tamanha lucidez e energia de viver
E com alegria para merecer igual admiração de meus filhos e netos.

Valeu Dona Ciça, minha mãe e minha mestra!

VARIAÇÕES ADVERBIAIS


Nunca é nada
     E nada é nunca
          Na vida...
              Tudo é sempre
                   E sempre é tudo
                        Na morte...
                                         Nada é sempre
                                              E nunca é tudo
                                                  Na vida...
                                                       Sempre é nada
                                                            E tudo é nunca
                                                                 Na morte...

                                                                      Sempre é nunca
                                                                      E tudo é nada
                                                                      Nunca é sempre
                                                                      E nada é tudo
                                                                      Na vida e na morte.

Verbete de dicionário

Mordaz:
             que morde;
             que corrói;
             que é picante;
             que é pungente;
             que é satírico;
             que é maledicente.